Tuesday, December 19, 2006

Porquê?

O senhor que toma conta dos armazéns dos supermercados deixa que as ratazanas façam, digamos, as suas necessidades, em cima das tampas dos refrigerantes, e depois limpa as tampas com um pano que serviu para limpar o carro depois de uma cagadela de pombo. Importa referir que o senhor que toma conta dos armazéns dos supermercados usa esse pano também para limpar as mãos quando estão sujas de pó, e o usa também para limpar a sopa da boca do seu filho que tem um ano. E de vez em quando também serve para limpar o fundo do caixote do lixo.
E é assim, um pano maravilha... Limpa tudo.
Um verdadeiro trapo. Daqueles que a gente gosta de usar. Digo-te mais, a Cassilda ia gostar de receber um desses pelo Natal. Ela que costuma dizer que o pó limpa-se é com um trapo e mais nada. Aliás, se ela não tiver um trapo, bem pode a casa esperar até que ela encontre um, no meio do armário das camisas do meu pai, onde ele, invariavelmente, só guarda camisas. E depois disso o meu pai chega a casa e diz, "ó Cassilda, lavaste aquela minha camisa de marca outra vez? Ela nem cheirava muito mal!" e depois a Cassilda diz "olhe senhor, usei-a foi pra limpar o pó, que para isso é que ela estava boa!" e depois o meu pai ameaça despedi-la mas na Terça Feira seguinte ela volta sempre a aparecer.

E é assim.
E depois a minha irmã mete as tampas de refrigerantes na boca e eu fico alguns trinta e sete minutos a explicar-lhe porque é que ela não o deve fazer. Mas às tantas ela enfia o seu dedo gorducho dentro da taça do chantilly e enfia o dito dedo na minha cara, e eu aí já nem me apetece falar a sério, aliás, só me apetece mesmo fazer-lhe cócegas até ela não aguentar mais e jurar que nunca mais me suja o nariz com chantilly, e que eu lhe ganhei 5 rondas seguidas das nossas lutas livres em cima da cama do meu pai. E eu fico feliz e faço-lhe mais cócegas e ela ri-se que nem uma perdida...

Ela tem um riso lindo. E está a abanar-lhe um dente. Ainda ontem tinha nascido e estava eu de bata e máscara a vê-la, para lá do vidro, a infringir todas as regras, porque tinha menos de 12 anos e ninguém com menos de 12 anos que se prezasse podia ver a sua irmãzinha pequenina, acabada de nascer, dentro de uma bola de vidro cheia de fios, que mais parece um ratinho de laboratório, mas que é uma criança porque é a minha irmã e eu vi-a muito bem com estes dois olhos que a terra há-de comer.

Ela tem um riso tão lindo...
E, no fundo, é isto.