Friday, January 05, 2007

O dente

E o dente já lhe caiu, enquanto eu me ocupava com outras coisas, talvez não tão importantes para ela e para o seu pequeno mundo cheio de dentes a abanar e de fadas que oferecem "presentes baratos". É uma grande felicidade quando cai um dente. Tenho pena, porque nesse dia estava ocupada com as minhas coisas e não estive com ela, mas sei que teve a sua privacidade e arrancou o seu primeiro dente e teve tempo para ter medo que lhe doesse, para que lhe doesse e para poder ficar na casa de banho o tempo suficiente para ter vontade de arrancar mais uns quantos se lhe apetecesse sentir aquela sensação de novo. E é tudo o que sei.
Mas estarei lá para talvez ajudá-la com o próximo, quem sabe se não cairá no meio de uma das nossas lutas na cama do meu pai.

Quem sabe.
Talvez ela venha a ser uma grande médica ou enfermeira, ou uma maquilhadora de pessoas famosas prestes a entrar em estúdio.
Quem me dera que a vida lhe permita a felicidade.
Ou talvez ela seja uma varredora de rua, ou uma freira ou uma bombeira.
Será isso o mais importante? Não.
O importante são as nossas lutas na cama do meu pai, e os trapos da Cassilda que continuará sempre a ir lá às Terças...

E a minha irmã põe as tampas de refrigerante na boca e eu digo-lhe que isso estraga os dentes novos que agora vão nascer, e que têm de ser fortes e não podem ter as bactérias existentes numa tampa de refrigerante.
E ela tira-a porque não quer que a fada se chateie com ela.
Digo eu...